Aposentado Cid Odin Arruda lê três livros por semana.
Ele é o sócio mais antigo do Gabinete de Leitura de Sorocaba, SP.
Todos os dias o aposentado Cid Odin Arruda cumpre a mesma rotina. Acorda às 5h, faz café, cuida do jardim e pega um ônibus. O destino varia entre o Gabinete de Leitura e a Biblioteca Municipal de Sorocaba (SP), lugares onde ele pode embarcar em sua viagem preferida: as páginas de um livro. Aos 95 anos, Cid é um aficcionado por livros. Já leu tantos que perdeu a conta. "Só Jesus para saber falar quantos eu já li", brinca. O que ele sabe é que, por semana, lê três títulos, religiosamente. Nesta terça-feira (23), quando é comemorado o Dia Internacional do Livro, funcionários do Gabinete de Leitura contam que ele é o sócio mais antigo da unidade.
O gosto pela
leitura veio de família. O comerciante aposentado é neto e filho de
bibliotecários. Por isso, nas lembranças de infância a imagem que prevalece é a
dos corredores da Biblioteca Municipal de Sorocaba. "Eu lia livros que meu
pai recomendava. Depois, mandava eu contar a história inteira, para ter certeza
que eu li mesmo", lembra. De tanto ler, ele recebeu uma incumbêrncia
especial: indicar obras para as frequentadoras da biblioteca. "Os pais
mandavam sua filhas na biblioteca pegar um livro e elas me perguntavam qual
podiam ler. Os pais sabiam que eu não indicaria nenhum livro com
safadeza", relembra Cid, aos risos.
Além de ser figura
carimbada na biblioteca sorocabana, Cid é um velho conhecido nas unidades de
Mongaguá (SP), Caldas Novas (GO), Guarapari (ES), e em várias outras do
nordeste. "O que eu gosto mesmo é de viajar. Quando não posso fisicamente,
viajo pelas páginas dos livros", conta Cid, que recebeu a reportagem do G1
enquanto fazia as malas para sua próxima viagem, para uma colônia de férias em
Ibirá (SP). Nilcéia Alves dos
Santos, funcionária do Gabinete de Leitura, é uma das admiradoras do
aposentado. Ela conhece Cid há 26 anos. "Eu tenho um carinho muito grande
por ele. É um verdadeiro exemplo para vários jovens que se interessam pela
história dele", conta Nilcéia. Ela diz que a visita de Cid é a mais frequente
no gabinete que, inclusive, já conferiu uma medalha cultural a ele em 2008,
pelo "compromisso com a cultura e tradições da cidade".
Romance além dos livros
Para
agradar a esposa, professora aposentada e apaixonada por livros, o idoso teve
que adaptar sua maneira de ler. Elza Bertazini Bracher, de 86 anos, conta que
depois de um glaucoma sua visão ficou prejudicada, o que impossibilitou a
leitura. "Eu só enxergo metade do mundo, o resto ele me conta", diz,
demonstando amor pelo companheiro, que lê trechos de livros para ela como forma
de amenizar o sofrimento por não poder mais ler. Os dois se conheceram quando
eram viúvos e já comemoraram Bodas de Prata juntos. "Eu fico triste
por saber que tantos jovens com a visão perfeita não gostam de ler, e eu que
gostaria tanto já não posso mais", lamenta Elza.
Na casa do casal,
tipicamente de aposentados, com direito a horta nos fundos, máquina de costura
e casaquinhos de tricô pelo sofá, uma estante guarda algumas relíquias, como o
livro "O Romance de Jeanne Bertier" - primeiro livro de Elza,
comprado em 1940 - , "E o Vento Levou" e "A Vingança do
Judeu", todos já com as páginas amareladas. Todos são de Elza, porque,
para Cid, o prazer está em caçar livros nas bibliotecas. Em todas as cidades
pelas quais passa o aposentado faz questão de conhecer as bibliotecas, e só
parte de Sorocaba quando tem certeza de que no destino vai ter onde encontrar
os livros. "Eu acho burrice carregar livros. Prefiro sair em busca deles
nas estantes públicas", conta.
Os benefícios que
a leitura trouxe para o aposentado são nítidos. Prova disso é que, mesmo com a
idade avançada, em plena lucidez, ele arrisca uma crítica sobre o cenário da
literatura atual. "Hoje a literatura é mais aberta, e a facilidade de
acesso aos livros é maior. Mesmo assim, as pessoas não leem. Falta incentivo
dos pais, o que é uma pena", diz Cid, que diz procurar saber sobre a
história que vai ler para "não ser surpreendido". "Sempre gostei
de histórias de reis, príncipes... mas hoje em dia muitas histórias descambam
para a pornografia, então tenho que tomar cuidado", brinca.
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