segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Textos premiados em 2º lugar no Concurso Literário Universitário 2012

POEMAS:
2 º Lugar: " Poema 3", de Cristiano Vieira



Há pessoas ...
Que acordam dos sonhos,
todos os dias.


Quisera eu


poder acordar,
da vida para o sonho...
Por só um dia.
  
CONTOS:
2º Lugar - "Colapso em noites de quarta-feira", de Gabriela Gil.

Colapso em noites de quarta-feira

                Passou tudo tão rápido... mas eu lembro bem de como foi.
Eu lembro do teatro lotado, as luzes ainda acesas e tu sentado na mesma fileira que eu, quase ao meu lado, não fosse um rapaz (que pensei ser amigo teu) sentado entre nós. Eu estava próxima ao corredor, e teu telefone tocava sem parar. Ficaste cruzando meu caminho rumo ao lobby do teatro várias vezes, o bastante pra me deixar nervosa e te perguntar se não estarias interessado em, quem sabe, assistir à peça.
Eu disse aquilo, mesmo? Deus, que vergonha. Eu vi teu olhar meio perdido, já que o celular te iluminava o rosto. Teu pedido de desculpas foi um pouco choroso, e aí que te olhei direito.
                O casaco longo e preto roçou pelas minhas pernas algumas vezes, enquanto desfilavas pelas fileiras de cadeira, mas eu não tinha percebido antes. Tua mão, meio pálida ( e bastante delicada pra mãos masculinas. Pianista?), me tocava o ombro de leve, e o toque era quente e suave, mesmo sobre o grosso casaco que eu usava. Os olhos expressivos e o sorriso perfeito. Eu não entendi muito bem teu cavanhaque, mas era... charmoso.
                - Não tem problema, desculpe se pareci grosseira. - e sorri, em partes por simpatia genuína, em partes por interesse em puxar assunto e ouvir tua voz de novo. Porém, tu só sorriste novamente e voltaste pro teu lugar.
                A apresentação teatral acabou em seguida, mas durou o bastante pra me fazer esquecer -quase que- completamente do homem de casaco longo e desculpas chorosas.
                Saí do teatro, uma chuva pesada banhava a noite da cidade. Procurei por um táxi, mas aparentemente teria de esperar um pouco até a chegada de algum carro.
                Sentei nas escadas da portaria e acendi um cigarro. Enquanto observava entediada as brasas queimando mais rápido durante a segunda tragada, noticiei um par de pernas em calças jeans , sapatos bem polidos e um pedaço de casaco um longo e preto parados na minha frente. Levantei os olhos, ainda com um pouco de fumaça cinza escapando por entre os lábios e nariz, e ali estavas parado, o tal rapaz de desculpas chorosas.
                - Oi, sabes qual o ponto de táxi mais próximo?
                - Ahn... ali, ali na esquina, mas ainda não chegou nenhum carro, também estou esperando.
                - Obrigado, moça. Empresta o isqueiro?
                Entreguei meu isqueirinho vagabundo vermelho e fiquei me odiando por não ter algo mais apresentável, como um zippo. Senti um leve cheiro a cravo e me entregaste o isqueiro de volta, com aquele mesmo sorriso de "obrigado", que não precisa de palavras pra expressar gratidão ou coisa alguma.
                Um carro de táxi chegou. Trocamos um olhar rápido, e eu disse que poderias ir, eu não tinha pressa e a noite estava deveras agradável com a chuva castigando o toldo bordô do Guarany.
                Aquele sorriso novamente. Aquele sorriso que diz tudo, sem palavras.
                Na verdade, eu só não queria ir embora primeiro.
                Um aceno.
- Boa noite, moça! Qual teu nome?
- Adriana.
- Então boa noite, Adriana! E obrigada pelo isqueiro!
                Entraste naquele táxi e eu fiquei ali, sonhando acordada, olhando pro mesmo lugar onde estava aquele sorriso momentos antes.
                Levantei das escadas e fui à pé pra casa, aproveitando que a chuva estava mais fraca (afinal, eram só algumas poucas quadras, mesmo).
                Eu nunca descobri teu nome. Tive esperança de que, antes de entrar no carro, tu me dissesses, mas isso não aconteceu.
                Toda quarta-feira eu volto ao teatro. Toda quarta eu sento naquela mesma cadeira do corredor, mas ninguém mais passou por mim várias vezes para atender ao telefone.
                Também nunca mais te vi, por mais que procurasse por aí aqueles sapatos pretos bem polidos, o casaco longo, o cavanhaque charmoso e os olhos expressivos.
                Teu sorriso, sim, eu vejo. Toda quarta, quando me sento na escadaria para fumar um cigarro ao final da apresentação, olho para aquele mesmo lugar onde teu sorriso esteve momentos antes de entrares no táxi.
                Foi numa noite chuvosa, em dezembro de 97. Lembro como se fosse ontem.
E tu, será que lembras?
  
CRÔNICAS:
2º Lugar - "Mulheres", de Luciano Teixeira Cáceres. 

  Mulher. Assunto complicado. Se fosse sobre a Teoria das Supercordas ou a influência do Id no contexto histórico-politico-social seria mais fácil. Mas não. Sherlock Holmes, que conseguia desvendar um crime tendo como dados somente o que a vítima tomou no café da manhã, achava a mulher incompreensível; traiçoeira até. Nem Freud, com seu complexo de Édipo e teorias sexuais, não deu conta do recado. Poderia consultar alguém mais prático. O Aurélio, talvez. Esse sabe de tudo um pouco, mas creio que também ficaria devendo. Se todos esses e mais uma tropa de outras sumidades não conseguem definir completamente o que é mulher, o que eu-- um pobre mortal-- vou  poder dizer?
          Muito. Porque é um assunto tão complexo e rico que todos têm sua própria definição de mulher e todos estão, ao seu modo, certos. A minha visão? Bem, já vi a mulher em suas muitas formas: mãe, irmã, prima, avó, amiga, namorada, colega, chefe e até inimiga(não queira ter uma nessa condição). Já reparou que na maioria das novelas o antagonista é mulher? E como são más! Fazem e acontecem. Como dizem no Orkut: eu tenho medo. Mas o esquisito é que os mocinhos adoram as vilãs, não conseguem largá-las. 
O que me leva a dizer outra coisa marcante sobre as mulheres: a persistência. É tanta que chega a ser, às vezes, teimosia. Para qualquer coisa ou assunto. Seja pra defender uma tese de doutorado ou o sabor da pizza. Então o que dizer? Será que o silêncio é uma das definições de mulher? É provável. Assim como um discurso à la Fidel. E antagonismos- preto e branco; luz e escuridão; leve e pesado- também a definem.
          É por essas e outras que acho que o que levou o homem a colocar a mulher sempre um degrau abaixo na sociedade ao longo da História é o medo. Sim, medo.  Porque se “dessem corda” pra mulher ela derrubaria o homem do seu pedestal e botaria ordem na casa. E não é o que está acontecendo? Elas já estão até em profissões tradicionalmente masculinas, como policiamento e construção civil. Estão tomando a iniciativa nos relacionamentos. Imagina passar na rua e de uma obra, ouvir uma voz doce dizendo: “oi, gatinho, tua mãe é confeiteira? Porque você é um docinho”.
Claro que isso não é ruim, só diferente. E temos de nos adaptar. Afinal, a mulher sempre teve  participação fundamental na nossa história, o que acontecia é que não lhe dávamos o crédito. Agora elas é que escrevem o roteiro, com mão firme. 
           E por falar em roteiro, o que me leva a discursos e reparei que esse texto está parecendo com um discurso de senador, que fala, fala e não diz nada. Mas com um  assunto “fácil” desses? Creio que nem Rui Barbosa conseguiria um texto completo sobre esse assunto tão complicado.Acho que vou chamar o pai e discutir sobre as supercordas. Mais fácil. 
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