2 º Lugar: " Poema 3", de Cristiano Vieira.
Há
pessoas ...
Que acordam dos sonhos,
todos os dias.
Que acordam dos sonhos,
todos os dias.
Quisera
eu
poder
acordar,
da vida para o sonho...
Por só um dia.
da vida para o sonho...
Por só um dia.
CONTOS:
2º Lugar - "Colapso em noites de quarta-feira", de Gabriela Gil.
Colapso em noites de quarta-feira
Passou
tudo tão rápido... mas eu lembro bem de como foi.
Eu lembro do teatro lotado, as luzes ainda
acesas e tu sentado na mesma fileira que eu, quase ao meu lado, não fosse um
rapaz (que pensei ser amigo teu) sentado entre nós. Eu estava próxima ao corredor,
e teu telefone tocava sem parar. Ficaste cruzando meu caminho rumo ao lobby do
teatro várias vezes, o bastante pra me deixar nervosa e te perguntar se não
estarias interessado em, quem sabe, assistir à peça.
Eu disse aquilo, mesmo? Deus, que vergonha. Eu
vi teu olhar meio perdido, já que o celular te iluminava o rosto. Teu pedido de
desculpas foi um pouco choroso, e aí que te olhei direito.
O
casaco longo e preto roçou pelas minhas pernas algumas vezes, enquanto
desfilavas pelas fileiras de cadeira, mas eu não tinha percebido antes. Tua
mão, meio pálida ( e bastante delicada pra mãos masculinas. Pianista?), me
tocava o ombro de leve, e o toque era quente e suave, mesmo sobre o grosso
casaco que eu usava. Os olhos expressivos e o sorriso perfeito. Eu não entendi
muito bem teu cavanhaque, mas era... charmoso.
-
Não tem problema, desculpe se pareci grosseira. - e sorri, em partes por
simpatia genuína, em partes por interesse em puxar assunto e ouvir tua voz de
novo. Porém, tu só sorriste novamente e voltaste pro teu lugar.
A
apresentação teatral acabou em seguida, mas durou o bastante pra me fazer
esquecer -quase que- completamente do homem de casaco longo e desculpas
chorosas.
Saí
do teatro, uma chuva pesada banhava a noite da cidade. Procurei por um táxi,
mas aparentemente teria de esperar um pouco até a chegada de algum carro.
Sentei
nas escadas da portaria e acendi um cigarro. Enquanto observava entediada as
brasas queimando mais rápido durante a segunda tragada, noticiei um par de
pernas em calças jeans , sapatos bem polidos e um pedaço de casaco um longo e
preto parados na minha frente. Levantei os olhos, ainda com um pouco de fumaça
cinza escapando por entre os lábios e nariz, e ali estavas parado, o tal rapaz
de desculpas chorosas.
-
Oi, sabes qual o ponto de táxi mais próximo?
-
Ahn... ali, ali na esquina, mas ainda não chegou nenhum carro, também estou
esperando.
-
Obrigado, moça. Empresta o isqueiro?
Entreguei
meu isqueirinho vagabundo vermelho e fiquei me odiando por não ter algo mais
apresentável, como um zippo. Senti um leve cheiro a cravo e me entregaste o
isqueiro de volta, com aquele mesmo sorriso de "obrigado", que não
precisa de palavras pra expressar gratidão ou coisa alguma.
Um
carro de táxi chegou. Trocamos um olhar rápido, e eu disse que poderias ir, eu
não tinha pressa e a noite estava deveras agradável com a chuva castigando o
toldo bordô do Guarany.
Aquele
sorriso novamente. Aquele sorriso que diz tudo, sem palavras.
Na
verdade, eu só não queria ir embora primeiro.
Um
aceno.
- Boa noite, moça! Qual teu nome?
- Adriana.
- Então boa noite, Adriana! E obrigada pelo isqueiro!
Entraste
naquele táxi e eu fiquei ali, sonhando acordada, olhando pro mesmo lugar onde
estava aquele sorriso momentos antes.
Levantei
das escadas e fui à pé pra casa, aproveitando que a chuva estava mais fraca
(afinal, eram só algumas poucas quadras, mesmo).
Eu
nunca descobri teu nome. Tive esperança de que, antes de entrar no carro, tu me
dissesses, mas isso não aconteceu.
Toda
quarta-feira eu volto ao teatro. Toda quarta eu sento naquela mesma cadeira do
corredor, mas ninguém mais passou por mim várias vezes para atender ao
telefone.
Também
nunca mais te vi, por mais que procurasse por aí aqueles sapatos pretos bem
polidos, o casaco longo, o cavanhaque charmoso e os olhos expressivos.
Teu
sorriso, sim, eu vejo. Toda quarta, quando me sento na escadaria para fumar um
cigarro ao final da apresentação, olho para aquele mesmo lugar onde teu sorriso
esteve momentos antes de entrares no táxi.
Foi
numa noite chuvosa, em dezembro de 97. Lembro como se fosse ontem.
E tu, será que lembras?
CRÔNICAS:
2º Lugar - "Mulheres", de Luciano Teixeira Cáceres.
2º Lugar - "Mulheres", de Luciano Teixeira Cáceres.
Mulher. Assunto
complicado. Se fosse sobre a Teoria das Supercordas ou a influência do Id no
contexto histórico-politico-social seria mais fácil. Mas não. Sherlock Holmes,
que conseguia desvendar um crime tendo como dados somente o que a vítima tomou
no café da manhã, achava a mulher incompreensível; traiçoeira até. Nem Freud,
com seu complexo de Édipo e teorias sexuais, não deu conta do recado. Poderia
consultar alguém mais prático. O Aurélio, talvez. Esse sabe de tudo um pouco, mas
creio que também ficaria devendo. Se todos esses e mais uma tropa de outras
sumidades não conseguem definir completamente o que é mulher, o que eu-- um
pobre mortal-- vou poder dizer?
Muito.
Porque é um assunto tão complexo e rico que todos têm sua própria definição de
mulher e todos estão, ao seu modo, certos. A minha visão? Bem, já vi a mulher
em suas muitas formas: mãe, irmã, prima, avó, amiga, namorada, colega, chefe e
até inimiga(não queira ter uma nessa condição). Já reparou que na maioria das
novelas o antagonista é mulher? E como são más! Fazem e acontecem. Como dizem
no Orkut: eu tenho medo. Mas o esquisito é que os mocinhos adoram as vilãs, não
conseguem largá-las.
O que me leva a dizer outra coisa marcante sobre as
mulheres: a persistência. É tanta que chega a ser, às vezes, teimosia. Para
qualquer coisa ou assunto. Seja pra defender uma tese de doutorado ou o sabor
da pizza. Então o que dizer? Será que o silêncio é uma das definições de
mulher? É provável. Assim como um discurso à la Fidel. E antagonismos- preto e
branco; luz e escuridão; leve e pesado- também a definem.
É por
essas e outras que acho que o que levou o homem a colocar a mulher sempre um
degrau abaixo na sociedade ao longo da História é o medo. Sim, medo. Porque
se “dessem corda” pra mulher ela derrubaria o homem do seu pedestal e botaria
ordem na casa. E não é o que está acontecendo? Elas já estão até em profissões
tradicionalmente masculinas, como policiamento e construção civil. Estão
tomando a iniciativa nos relacionamentos. Imagina passar na rua e de uma obra,
ouvir uma voz doce dizendo: “oi, gatinho, tua mãe é confeiteira? Porque você é
um docinho”.
Claro que isso não é ruim, só diferente. E temos de nos
adaptar. Afinal, a mulher sempre teve participação fundamental na nossa
história, o que acontecia é que não lhe dávamos o crédito. Agora elas é que
escrevem o roteiro, com mão firme.
E por
falar em roteiro, o que me leva a discursos e reparei que esse texto está
parecendo com um discurso de senador, que fala, fala e não diz nada. Mas com um
assunto “fácil” desses? Creio que nem Rui Barbosa conseguiria um texto
completo sobre esse assunto tão complicado.Acho que vou chamar o pai e discutir sobre as
supercordas. Mais fácil.
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